O protesto chamado de “esquenta pelo impeachment” por seus organizadores ganhou tons literais na tarde deste domingo (13), no Rio, quando milhares de pessoas vestidas de verde e amarelo caminharam pela praia de Copacabana sob sol forte e com termômetros marcando 38ºC, para pedir a saída da presidente Dilma Rousseff.

Os manifestantes andaram por cerca de dois quilômetros, do posto 5 ao Copacabana Palace, exibindo bandeiras e cartazes com dizeres como “Fora Dilma”, “Lula, vai chegar sua vez” e “Je suis Moro”, em apoio as ações do juiz Sérgio Moro.

O ato também contou com apoio de três carros de som –dois a menos do que na manifestação pró-impeachment de 16 de agosto, no mesmo local.

A cabeleireira Charlo Ferreson, que se apresentou como coordenadora do grupo Revoltados On Line no Rio, disse que a manifestação deste domingo “foi menor, mas com qualidade”.

“Tivemos muita dificuldade para organizar esse protesto. O prazo foi muito curto. Tem ainda a questão do calor. Imaginei que seria ainda menor”, disse ela, que preferiu não estimar a quantidade de público presente.

Ferreson afirmou ainda que um dos carros de som do protesto teria sofrido sabotagem. “Ele estava parado no sinal e um grupo pró-Dilma cortou os cabos de som”, disse.

A manifestação teve um breve momento de confusão quando um grupo de cerca de 50 skatistas, alguns vestidos de vermelho, vieram em direção contrária a da marcha e tentaram passar pelos manifestantes, que reagiram.

A Polícia Militar, que reforçou o patrulhamento em toda orla, teve que intervir e retirar o grupo contrário a manifestação –um policial apontou uma arma de bala de borracha contra os skatistas. No tumulto, copos e latas chegaram a ser lançados em direção aos militares, que não revidaram.

“Acho um absurdo não deixarem expressar nossa opinião. Se eles podem se a favor do impeachment nós podemos ser contrários”, disse um dos skatistas. Segundo a PM, ninguém foi preso.

Não houve estimativa oficial nem da PM nem dos organizadores sobre o número de presentes ao ato. Soldados ouvidos pela Folha afirmaram que havia cerca de 5.000 pessoas. Coordenador do Foro do Brasil, Toni Imbrósio, estimou em 10 mil os participantes do protesto.

“O impeachment da Dilma ajuda, mas não resolve o problema do Brasil. O Congresso vai continuar cheio de ratatuia. O mais importante é mudar o sistema do país”, disse Imbrósio, citando como exemplo o fim da nomeação de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) pelo presidente.

Por volta das 15h30, duas horas após seu início e ainda sob sol inclemente, grande parte dos manifestantes se dispersou ao chegar em frente ao Copacabana Palace, após a execução do Hino Nacional por um dos carros de som.

Entre os participantes da manifestação carioca estavam os deputados federais Jair Bolsonaro (PP), Julio Lopes (PPL), Aureo (SD), Índio da Costa (PSD) e Sóstenes Cavalcante (PSD).

A menor concentração de manifestantes em favor do impeachment de Dilma Rousseff neste domingo (13), ainda que previsível dado o tempo exíguo para a organização dos eventos, explicita a narrativa algo não-linear da crise de 2015. Afinal de contas, a presidente está hoje mais próxima de ser impedida do que estava no auge dos protestos, em março passado.

Isso desafia a parcela da oposição que sonha em uma repetição do roteiro que levou Fernando Collor ao chão em 1992. Só que a realidade política, social e de comunicação interpessoal é totalmente diversa 23 anos depois, assim esses opositores de Dilma terão de achar um novo discurso.

Dizer que “impeachment precisa de rua” pode ser um tiro no pé: não derrubou Dilma em março, não derrubaria agora. A dinâmica das redes sociais e o fato de que pode haver gente disposta a ir para a rua em favor da petista como não havia no tempo de Collor são elementos na equação.

Nesse sentido, será interessante acompanhar a aposta dos movimentos mais organizados em uma data de protestos para março de 2016. Até lá, o impeachment poderá ter prosperado ou ter sido enterrado, ao menos na forma atual. Na primeira hipótese, é factível achar que a “rua” à frente do Congresso possa fazer diferença. Na segunda, tudo terá de recomeçar do zero.

Por isso a maior parte da oposição gostaria de ver o recesso parlamentar ocorrendo integralmente, para jogar com o desgaste progressivo de um governo cuja economia mal para em pé, e que enfrentará mais más notícias em janeiro. Para os governistas, não haver um rugido mais forte hoje nas ruas encoraja a tentativa de fazer uma pausa mais curta, mas tudo isso dependerá da sessão do Supremo na quarta (16) que discutirá o rito do impeachment e poderá forçar um calendário por questões práticas -pedidos de vista, demora em decisões etc.

Não que o Planalto tenha muito a comemorar, ainda que o domingo não lhe tenha sido desastroso. Está cristalizado o cenário da manifestação constante. São alguns milhares dispostos a dispensar o domingo de bom tempo em parte do país para gritar o “Fora, Dilma”, e a capilaridade dos atos parece ter sido maior do que a ocorrida em agosto passado. De resto, as pesquisas de opinião reprovam cabalmente o governo e indicam uma maioria a favor do impedimento.

Um fator carece aqui de análise estatística, mas pode ter também ajudado a esvaziar os atos deste domingo: Eduardo Cunha. Os atos recentes do peemedebista para tentar se manter à frente da Câmara são confundidos facilmente, e o governo aposta nessa tática, com o fato de que é dele a condução da Casa que admitiu analisar o processo do impeachment neste momento.

Uma parcela dos que vão à rua, particularmente o estrato mais bem informado, empunha uma bandeira ética e pode estar constrangido, temer ser confundido com apoiador de Cunha.

No mundo político, contudo, tal raciocínio está superado pela semana em que avançou o divórcio do PMDB com o governo, e Dilma perdeu apoios importantes. Ao fim, a “rua” poderá perder parte da mística que a acompanha no debate político, para bem e para mal, embora março de 2015 e junho de 2013 estejam na memória para confrontar essa hipótese.

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