Charles Otaga foi preso junto com suspeito de roubo nesta quarta-feira (20). Detido alegou que foi torturado antes de ser levado à delegacia por PM. Do G1 São Paulo   A Justiça decretou a prisão preventiva do sargento da Polícia Militar Charles Otaga no início da noite desta quarta-feira (21). Ele é suspeito de ter torturado Afonso de Carvalho Trudes, suspeito por roubo na Zona Leste de São Paulo. Trudes também foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na tarde desta quarta. O sargento foi preso nesta terça-feira (20) ao apresentar em uma delegacia de Itaquera, na Zona Leste da capital, o suspeito de roubo. O homem detido afirmou que foi torturado antes de ser levado à delegacia e que chegou a levar choques no pescoço, na região das costelas e no pênis. O delegado prendeu então tanto o suspeito de roubo quanto o policial militar. O caso levou até a frente do 103º DP outros policiais militares e familiares dos policiais envolvidos. O grupo protestou contra a prisão do sargento. Deputados ligados às polícias Civil e Militar também foram ao local. O delegado Raphael Zanon, que investiga o caso, acabou deixando a delegacia sob escolta durante a madrugada e, na tarde desta quarta, chegou ao Fórum da Barra Funda da mesma forma. Segundo o boletim de ocorrência, o suspeito confessou ter roubado uma loja de sapatos. Ele tinha uma arma de brinquedo, que foi apreendida. O criminoso contou que, após ser preso, os três policiais pararam a viatura na Avenida Luís Mateus. O sargento Charles Otaga, de 41 anos, foi o responsável por aplicar os choques, segundo o relato. O suspeito disse ainda que outro policial pegou uma faca e que ela foi usada pelo sargento Otaga para ameaçá-lo. A tortura teria durado cerca de 15 minutos. O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) constatou diversas lesões de natureza leve no jovem preso. O advogado do sargento Charles Otaga, Fernando Pittner, falou que o ladrão disse inicialmente que a bicicleta usada por ele no roubo e que foi colocada pela polícia com o suspeito no carro da PM para levá-la à delegacia foi a causadora das escoriações. Tanto o detido como a bicicleta foram conduzidos no espaço reservado a presos. Pittner disse ainda que os policiais só pararam o carro a caminho da delegacia para ajustar a posição da bicicleta. O sargento Charles Otaga deixou o local sob aplausos das pessoas que aguardavam do lado de fora. Ele foi levado pela polícia para o presídio militar Romão Gomes. O Secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, descartou um conflito entre as polícias. “Primeiro que não houve confusão alguma. Houve confusão entre dois deputados, um deputado defendendo a polícia militar e outro deputado defendendo a polícia civil”, disse, após bate-boca entre os deputados Coronel Telhada (PSDB) e Delegado Olim (PP). Duas versões O sargento Charles Otaga mudou sua versão dos fatos para justificar as lesões constatadas pelo Instituto Médico Legal (IML) no pênis do acusado Afonso de Carvalho Trudes. De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 103º DP, em Itaquera, primeiramente o PM informou que, assim que deu voz de parada a Afonso, o suspeito desceu de sua bicicleta e ficou em posição para ser revistado, colaborando com a abordagem. Depois, após a denúncia de tortura, Otaga voltou atrás no depoimento e afirmou que Afonso tentou fugir quando foi detido. Segundo ele, o suspeito acelerou a bicicleta e pedalou por cerca de 70 metros com um arma de brinquedo presa à cueca, passando rapidamente por lombadas e valetas, o que teria causado os ferimentos em sua genitália. O advogado de Otaga, Fernando Pittner, disse que o criminoso havia confirmado inicialmente que a bicicleta utilizada no roubo foi a responsável por causar as escoriações. A bike foi colocada pela polícia junto com ele no compartimento para presos da viatura, o que teria causado os ferimentos. Pittner disse ainda que os policiais de fato pararam o carro a caminho da delegacia, mas que a parada só aconteceu para ajustar a posição da bicicleta, à pedido do próprio Afonso, que afirmou que ela o estava machucando. O sargento ainda alegou que aproveitou o momento para também afrouxar a algema do suspeito que estava muito apertada. Segundo Otaga, esta foi a única parada da viatura na Avenida Luís Mateus e que toda a movimentação da viatura pode ser consultada pelo GPS instalado no veículo. O PM acredita que foi indicado como o autor das torturas apenas por ter “lidado direto” com o suspeito, conforme contou em depoimento à polícia. Delegado “estressadinho” Em áudio compartilhado por meio de rede social, após a prisão de Otaga, policiais militares disseram que o delegado Raphael Zanon, responsável pela prisão do sargento, estava “estressadinho” e sempre prejudica os PMs em ocorrências. “QRU é o seguinte: esse delegado aqui do 103, ele está doido da vida com a PM por causa do ciclo completo de polícia, está todo estressadinho. E por causa da resolução 57. Toda ocorrência que é levada pra ele  ele quer inverter contra os ‘mikes’ [gíria usada para policiais]”, diz áudio compartilhado em rede social. “Um tal de um delegado Raphael Zanon, que não gosta da polícia aí, ele declara que odeia a PM, entendeu? Então, está mostrando as garra dele aqui, né? Advogando para ladrão. Oh, pessoal, agora é hora da gente se unir, entendeu? E defender os nossos porque os “charlie” (policial civil) só quer fritar a gente”, diz outro áudio. O ciclo completo de polícia, que pemite às duas polícias atuar tanto nas investigações como em ações ostensivas, é discutido em uma PEC no Congresso. Já a resolução 57/15 da Secretaria da Segurança Pública determina que em caso de flagrante, o delegado deve providenciar a rápida liberação dos policiais militares, providenciando rapidamente os papéis para que eles assinem e voltem ao policiamento. A resolução afirma que isso deve ser feito apenas após a entrega do recibo do preso e do depoimento dos policiais. Em nota, a Secretaria da Segurança informou que um “homem foi preso em flagrante após roubar uma loja de sapatos, na manhã de terça-feira (20), em Itaquera. Na delegacia, ele foi reconhecido pela dona do estabelecimento. Durante o registro da ocorrência, o indiciado acusou os policiais militares de tortura. O suspeito passou por exame de corpo de delito, que constatou lesões mas afastou a alegação de agressões por choques elétricos, como citado pelo indiciado. O sargento Charles Otaga foi autuado em flagrante por tortura e permanece preso no Presídio Romão Gomes. Já foi instaurado também um inquérito policial militar para apurar o caso” FONTE: site G1, disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/10/justica-decreta-prisao-preventiva-de-sargento-da-pm-suspeito-de-tortura.html]]>