Em entrevista à Brasileiros para a série especial sobre a redução da maioridade penal, frei David Santos, líder da Educafro, falou sobre a importância da educação   Frei David Santos é fundador e diretor executivo do Educafro, projeto que, nas suas palavras, “é uma proposta de empoderar o negro através da educação”. Com 20 anos de atuação em diversas cidades do país, quem procura a instituição consegue ajuda para fazer desde cursinhos pré-vestibular até bolsa integral para a universidade. A Educafro ainda atua em diversos outros aspectos auxiliando os mais frágeis na sociedade. Recentemente, há cerca de um ano e meio, a organização iniciou um curso de português para refugiados e imigrantes que estão em situação de vulnerabilidade em São Paulo. Não é por acaso, quando convidado para nossa série de entrevistas para discutir a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, frei David focou em uma saída para a questão: a educação para todos. O senhor é a favor ou contra a redução da maioridade penal? Por quê? Radicalmente contra. Porque todos os países onde foi feito a redução da maioridade penal, avaliou-se que não houve progresso com referência ao foco que é dar a criança dignidade. Segundo motivo: entendemos que a criança que comete algum delito é apenas o resultado do abandono da sociedade com ela. Atrás de cada criança que comete delito tem uma família abandonada, tem uma criança abandonada. Portanto, o problema é anterior. E a proposta de  não reduzir a maioridade penal, mas aumentar o tempo de internação na Fundação Casa. Esse é o ponto? Todos os países do mundo onde há um baixo índice de criminalidade envolvendo crianças, onde a há um baixo envolvimento de crianças em situação de perigo, esses países tem estudo integral disponível a toda população, todas as crianças, especialmente as pobres. Portanto, o único caminho para o Brasil resolver de vez esse problema é dar a todas as crianças o direito de estudar com ensino integral, com qualidade, com conteúdo e conjunto com acompanhamento psiquiátrico, pedagógico, físico, espiritual. O Educafro tenta cobrir um pouco essa falha?   A Educafro existe há mais de 20 anos enquanto trabalho focando radicalmente na inclusão do pobre na universidade. Temos a alegria de ter vários ex-moradores de rua se formando ou já formados por causa do nosso trabalho. Qual sua opinião quando vemos que o país avançou nos últimos 15 anos, mas a violência persiste? São três razões. Primeiro:  a quebra da possibilidade das famílias, mãe ou pai, cuidar do filho dentro de casa e consequentemente não ter creche, nem colégio de ensino integral. Numero dois: a falta de treinamento da Polícia Militar e Civil no Brasil inteiro com referência a questão do negro e a marcação dos negros como ladrões em potencial. O fator três está ligado com a crise das polícias, onde os grupos policiais bandidos crescem assustadoramente nos quatro cantos do país. Por exemplo, no Estado do Espírito Santo, um dos menores da federação brasileira, entre os dez municípios brasileiros que mais matam jovens negros, quatro estão no Espírito Santo. Isso é inaceitável. Mesmo com todos os argumentos, a constatação é que a maioridade do Brasil é a favor da redução. Como reverter esse quadro? A grande dor que carregamos em nosso coração é que todos os partidos políticos organizados hoje no Brasil nunca se preocuparam em conscientizar o povo frente as grandes questões. Portanto, você vê que nesses últimos quinze anos, o povo tem votado em fazendeiros, em industriais, em pessoas ricas. Pobre não tem votado em pobre, negro não tem votado em negro. Tudo isso gera uma sociedade sem consciência, a qualidade do voto fica comprometida e a decisão do pensar do povo fica ainda mais corroída. Quando grande parte do povo brasileiro é a favor da redução da maioridade penal, o único fator que está por trás é a total falta de conscientização provocada não só pelos partidos, mas pelo conjunto, que passa pela escola. Link curto: http://brasileiros.com.br/YyuNv FONTE: site Brasileiros, disponível em: http://brasileiros.com.br/2015/10/atras-de-cada-jovem-infrator-tem-uma-familia-abandonada/]]>