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Repórter narra os horrores do ocorrido naquele 2 de outubro. Escritor traça paralelo entre o episódio e o surgimento do PCC  por Redação RBA publicado 02/10/2015 12:38, última modificação 02/10/2015 12:50 “Era a visão do inferno. Nada que eu tenha ouvido, lido ou assistido se parece com alguma coisa que vi ali, naquele dia” São Paulo – 2 de outubro. 1992. O vergonhoso Massacre do Carandiru. Uma briga entre facções de presidiários é o estopim para um confronto generalizado no interior da Casa de Detenção de São Paulo. A Polícia Militar invade o presídio para conter a rebelião. O resultado: 111 presos mortos e outros 100, feridos. Muitos corpos foram encontrados com as mãos sobre as cabeças, em sinal de rendição, e até algemados. O mais grave episódio na triste história do sistema prisional brasileiro. Familiares e repórteres se amontoavam, na porta do complexo presidiário, na busca de informações sobre o massacre promovido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Sem êxito, os jornalistas resolveram ir ao Instituto Médico Legal (IML) para obter dados sobre a tragédia que tinha acabado de acontecer. No IML, Rosângela Costa, então repórter da Rádio dos Bancários, percebeu que só podiam entrar os parentes para reconhecer os presos mortos, e utilizou como estratégia o próprio sobrenome, que coincidia com um dos presos mortos. “Não lembro se falei que era prima ou irmã, e eles me deixaram entrar. Quando entrei, tomei um baita susto. Nunca tinha ido a um enterro, imagina. Levei um choque”, conta a jornalista, em entrevista à repórter Marilú Cabañas, da Rádio Brasil Atual. “Estava imaginando ver algumas pessoas mortas, igual a gente vê nos filmes. Mas vi gente esparramada pelo chão. Não tinha mais lugar para pôr”, relata Rosângela. “Tinha muita coisa deformada, cortes, pedaços faltando, algumas pareciam mordidas de cachorro. Levei um susto muito grande, não conseguia processar o que estava vendo.” Depois os repórteres voltaram ao Carandiru e tiveram permissão para entrar no Pavilhão 9, onde ocorreu o massacre. Ela conta que era fácil identificar porque no chão havia um líquido em tom de vermelho claro. Apesar das tentativas de lavar o ambiente, o sangue impregnava. “Tinha muito sangue escorrendo no chão. Era um cheiro parecido com mofo quente, misturado com areia. Uma coisa horrível”, relembra Rosângela. “Nós entramos e, de repente, tinha um monte de gente junta. Os detentos estavam juntos, com medo. Cada jornalista que entrou procurou uma pessoa para conversar, para dar o depoimento. Todo mundo queria falar, ao mesmo tempo, não se conseguiu ouvir ninguém. Nem o pior filme de terror pintava isso.” O preso entrevistado por Rosângela contou que os policiais enfiavam as metralhadoras pelos buracos das portas das celas e atiravam, depois abriam as portas e soltavam os cachorros. “Não sei te dizer o que era pior: o relato dele ou o que estava vendo. Tinha muita marca nas paredes, nas portas, buracos. Tinha muito sangue. Era a visão do inferno. Nada que eu tenha ouvido, lido ou assistido se parece com alguma coisa que vi ali, naquele dia”. Já o jornalista Josmar Josino, autor do livro Cobras e Lagartos, que explica as origens do Primeiro Comando da Capital (PCC), diz que o surgimento daquela que se tornaria a maior facção criminosa do país está intimamente ligado com o contexto de tortura e violência policial, que teve o seu ápice no Massacre do Carandiru. Ele conta que os presos começam a se organizar, com a ajuda de familiares e advogados, para denunciar os casos de tortura cometidos naquele complexo presidiário, integrado pela Casa de Detenção, pelo presídio masculino e pelo Centro de Observação Criminológica (COC), todos palcos de abusos. Na época do massacre, a Casa de Detenção tinha capacidade para 3 mil presos e abrigava o dobro.”Os presos ficavam vários anos sem receber visita, eram espancados com barras de ferro. Mulheres e parentes também sofriam humilhações. Muitos que lutavam contra esse tipo de tortura, ou que cometiam faltas graves, eram mandados para Taubaté. Lá, que eles se organizaram, para valer”, conta Josmar, também em entrevista à repórter Marilú Cabanãs, da Rádio Brasil Atual.. “Foram se organizando, pensando em criar uma facção, à exemplo do que havia surgido na Ilha Grande (Rio de Janeiro), a Falange Vermelha, que depois virou o Comando Vermelho. Começaram até a escrever um estatuto”. Ele conta que, após uma série de transferências, e com a popularização do telefone celular, a organização se ampliou para presídios de todo o estado. “Começaram não só a lutar contra a opressão, mas a planejar ações visando lucro. Tramaram assaltos, intensificaram o tráfico de drogas, sequestros. Ganharam muito dinheiro, planejaram também ações de resgate. Foram se organizando, não mais com um ideal para evitar a opressão, mas para a atividade criminosa também.” Memórias Em 2014, 21 anos depois da tragédia, foi concluído o julgamento dos acusados pela violência em um dos andares do Pavilhão 9, que condenou 73 policiais militares a penas que variaram entre 48 e 624 anos de prisão. Todos ainda recorrem em liberdade. O coronel Ubiratan Guimarães, comandante da ação, já tinha sido condenado a mais de 600 anos de prisão. Ele recorreu da sentença e teve o julgamento anulado. O policial foi assassinado em 2006, em circunstâncias até hoje não esclarecidas. O Carandiru foi implodido em 2002 e deu lugar ao Parque da Juventude. FONTE: site Rede Brasil Atual, disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/10/apos-23-anos-massacre-do-carandiru-ainda-vive-na-lembranca-e-repercute-dentro-das-prisoes-5234.html]]>

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